As dores musculares induzidas pelo treino de força podem ser prevenidas pelo alongamento?
Considerado na literatura científica como delayed onset muscle soreness (DOMS), é indicado como um estado inflamatório local, nas componentes musculotendinosas, com maior incidência junto às junções miotendinosas, em consequência de um estímulo físico intenso, agressivo ao organismo, em particular às estruturas do aparelho locomotor, e que tende a provocar dano estrutural aos tecidos musculares.
Este fenómeno reflete-se num aumento da concentração de creatina-quinase no sangue e sintomas como a perceção de fadiga e dores musculares.
É conhecida a utilização da prática de alongamento, prévia às sessões de treino, mas também como modo de acelerar o processo de recuperação entre sessões.
Porém, tal não tem sido confirmado pela investigação, relativamente a este efeito de prevenção da ocorrência de DOMS após uma sessão de treino, nem da capacidade de acelerar o processo de recuperação entre sessões. Pelo contrário, tem sido sugerido que, quando praticado com intensidades e durações elevadas, tende, inclusivamente, a acentuar os sinais e sintomas de DOMS, especialmente quando o alongamento é estático, potenciando ainda mais a dimensão e duração dos sinais e sintomas de DOMS.
Por outro lado, há estudos que referem que níveis de flexibilidade elevados e prática regular e sistematizada de alongamento aparentam ser, a longo prazo, um fator protetor contra a manifestação de DOMS (LaRoche & Connolly, 2006; McHugh et al., 1999).
McHugh e colegas (1999) verificaram que sujeitos com maiores níveis de flexibilidade da flexão da coxa com a perna em extensão e com menores níveis de rigidez passiva das estruturas alongadas, apresentaram manifestações de DOMS com menor intensidade, comparativamente com sujeitos com menores níveis de flexibilidade e, ao mesmo tempo, maiores níveis de resistência ao alongamento.
Esta evidência sugere que o alongamento poderá ser benéfico na ocorrência e dimensão dos sinais e sintomas de DOMS, não a nível agudo entre sessões, mas a longo prazo.
Resumindo, a investigação nesta área, aponta para um duplo papel da prática de alongamentos visando a proteção contra a manifestação de DOMS. Numa dimensão de curto prazo, é referido que não diminui os sinais e sintomas de DOMS e que, pelo contrário, pode aumentar a sua expressão. Já a longo prazo, pode reduzir a dimensão dos sinais e sintomas após sessões de treino.
Assim, numa perspetiva preventiva, é recomendado especificamente, o desenvolvimento da flexibilidade.